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Suicídio entre anestesiologistas: antes que setembro acabe, precisamos falar sobre isto

Por Michelle Nacur Lorentz

Evidências sugerem ser o profissional de saúde o mais propenso a cometer suicídio que a população geral.  O médico parece figurar como profissão de maior risco e na profissão, a anestesiologia seria uma das especialidades com maior índice de suicídio, atrás apenas da medicina interna e psiquiatria.

Estima-se que 3,2 a 25% dos anestesiologistas já experimentaram comportamento ou ideação suicida e 0,5 a 2% já tentaram autoextermínio. Tais estatísticas colocam o suicídio como um problema de saúde seríssimo em nosso meio, havendo autores que defendem que tal tema deva ser abordado como um problema de saúde ocupacional.

Embora as taxas de suicídio variem entre países, com tendência a diminuição na Europa, os trabalhos de uma forma geral demonstram aumento nas taxas de suicídio entre médicos, principalmente entre as mulheres.

Algumas teorias foram propostas para explicar tal fenômeno, como o estresse, a insatisfação com o trabalho, o burnout, a associação com doenças mentais, as altas cargas laborais, o comportamento compulsivo, a dificuldade do médico em buscar ajuda, o acesso a fármacos letais, além da associação com alcoolismo e drogadição. No caso das mulheres, acrescente o acúmulo de trabalhos e responsabilidade domésticas, sociais e na educação dos filhos.

Adicione a tudo isto as mudanças constantes no mercado de trabalho, judicialização da medicina, pressão por parte dos convênios, pacientes e colegas, perda da autonomia, violência no local de trabalho e diminuição na remuneração. Neste cenário é natural que ocorra grande redução na satisfação profissional.

O suicídio parece ser um processo lento e pouco se sabe sobre a transição entre a ideação suicida, a tentativa de suicídio e a efetivação dele. Mas sabemos que estratégias para prevenir tais situações são necessárias. Sabemos que a prevenção deve começar cedo, tão logo o estudante ingresse na faculdade de Medicina. Sabemos que as estratégias preventivas devem se basear na educação, no autoconhecimento, no trabalho das sociedades e na desmistificação do assunto.

Dia 10 de setembro foi o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Precisamos falar sobre isto. Precisamos olhar uns pelos outros. A saúde mental de cada anestesiologista importa. Cada vida humana perdida dessa forma configura numa verdadeira tragédia. Precisamos entender os porquês e combatê-los antes que percamos mais colegas de forma tão dramática.