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Siso: ansiedade e tristeza são temas de palestra

A pandemia modificou a forma como as pessoas se relacionam e o ambiente de trabalho para muitos brasileiros, no entanto, para os profissionais de saúde algumas mudanças não foram possíveis. Eles atuam incansavelmente para o combate à doença e assistência de milhares de pacientes que chegam aos hospitais em busca de tratamento.

Como reflexo da dedicação, os profissionais tiveram impactos significativos na saúde, física, mental, social e ocupacional. Para discutir o tema, a Sociedade Brasileira de Anestesiologia (SBA) promoverá no dia 26 de setembro, entre 9h e 17h, a oitava edição do Simpósio de Saúde Ocupacional (Siso).

O evento contará com nomes de peso no tema, entre eles o dr. Antônio Egidio Nardi, professor titular de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências. O especialista trará à tona temas que ainda são vistos como tabu na área, como ansiedade, depressão e drogadição.

Confira abaixo a entrevista com o especialista e aproveite para se inscrever no Siso.


SBA – Poderia falar um pouco sobre a sua palestra e a relação dela com a anestesiologia?
Dr. Antônio Egidio Nardi – Vou mostrar que os índices de depressão e ansiedade aumentaram muito na sociedade como um todo e que temos que nos adaptar a essa nova realidade. No caso específico dos médicos, vou mostrar que esse aumento de ansiedade e de depressão é algo que nos preocupa porque muitos não procuram o tratamento e no caso específico da anestesiologia, que é uma especialidade extremamente exposta a contaminação pela Covid, o nível de ansiedade e de depressão aumentou de forma assustadora, fazendo com que a saúde ocupacional dos anestesiologistas deva ser um foco importante nessas medidas preventivas para evitar a depressão os transtornos de ansiedade.


“Todo tabu e todo preconceito vem do desconhecimento.

DR. ANTÔNIO EGIDIO NARDI

SBA – Qual a importância de discutir a Saúde Ocupacional em um cenário de pandemia que vivemos?
Dr. Antônio Egidio Nardi – Como todos nós notamos, a pandemia afeta a nossa saúde de uma forma global, tanto a saúde física, mental, social, quanto a saúde ocupacional, qualquer que seja a nossa forma de trabalho ela mudou.

No caso específico dos profissionais de saúde, a mudança foi muito radical e estressante porque todos nós ficamos muito ansiosos com a nossa saúde e a de nossos colegas e pacientes, porque, principalmente, os profissionais de saúde se tornaram uma população de risco para a contaminação da Covid-19.

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Como vimos vários colegas de diferentes áreas da saúde serem contaminados pela doença e alguns falecerem, as precauções que todos nós temos que tomar neste momento são ainda mais especiais na área da saúde.

SBA: Os profissionais que atuam na linha de frente das pandemias tentem a sofrer mais com ansiedade e doenças ocupacionais? Por quê?
Dr. Antônio Egidio Nardi – Sim, sem dúvida. Esses profissionais se enquadram como população de risco porque lidam com pessoas já contaminadas com a Covid.

Alguns de nós já possuem fatores de risco como idade, hipertensão arterial, obesidade, entre outros, então ficamos muito preocupados com o fato de também podermos transmitir a Covid para outras pessoas, por isso o trabalho passa a ser um fator de estresse, primeiro pela questão da exposição, depois pela possibilidade de contaminar outras pessoas e, por fim, pelo aumento drástico da necessidade de assistência médica e de assistência hospitalar nas diferentes especialidades, o que faz com que os profissionais de saúde tenham tido um aumento significativo de trabalho durante a pandemia, então é um trabalho maior grande responsabilidade e exposto a fatores de risco.

Todos nós perdemos colegas de trabalho nesse período pela infecção pela Covid mostrando ainda mais esta reação de luto e de estresse que todos nós estamos prevendo.

SBA – Em algumas áreas falar sobre depressão, ansiedade e dependência química ainda é um tabu, porque acha que isso ocorre?
Dr. Antônio Egidio Nardi –  Isso ocorre, no meu entender, pelo desconhecimento. Todo tabu e todo preconceito vem do desconhecimento. Depressão, os transtornos de ansiedade ou o abuso que leva à dependência química, tudo isso deve ser encarado de uma forma direta, informativa e preventiva porque são doenças que devem ser identificadas e tratadas.

No caso da depressão e dos transtornos de ansiedade, existem diferentes tipos de tratamento que faz com que os resultados sejam bem favoráveis. Na questão da dependência química, a situação é mais complexa porque exige demais a colaboração do paciente, muitas vezes a substância a qual ele é dependente é de fácil acesso e isso faz com que é seja muito difícil para o indivíduo, ou para a equipe que o está tratando, ficar distante da substância a qual ele é dependente.

Mas é necessário entender que são transtornos mentais graves com risco de suicídio e agora que estamos em períodos de setembro amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, é uma pena que ainda exista um tabu e que ainda exista desconhecimento e certa desvalorização do sofrimento psíquico e emocional na nossa sociedade.

SBA – A longo prazo, acredita que teremos impactos significativo nos profissionais da saúde? Quais seriam?
Dr. Antônio Egidio Nardi – Nós já estamos tendo impactos significativos nos profissionais de saúde, chamam de até uma quarta onda, uma onda que virá após a pandemia em relação à saúde mental da população em geral, mas, como falei nas respostas anteriores, os profissionais de saúde formam uma categoria especialmente exposta ao stress, exposta a situações de risco, então os anestesiologistas e médicos de todas as especialidades acabam se caracterizando como uma população de risco para transtornos mentais, principalmente depressão, ansiedade e dependência química pelo fácil acesso as substâncias que favorecem a esse tipo de problema.

E tudo isso aumenta, inclusive, o risco de suicídio. Então, nós temos que falar abertamente sobre os transtornos mentais, sobre o suicídio, o qual pode ser prevenido desde que tenhamos consciência disso e que não incentivemos nenhum tipo de tabu ou preconceito ligado ao tema. Falar sobre o assunto aumenta o nível de informação e faz com que as pessoas procurem ajuda.

Siso é um evento gratuito e tem por objetivo discutir e conscientizar os anestesiologistas brasileiros sobre a importância de exercer sua profissão sem deixar de lado a saúde física e mental. Nesta edição, a programação do evento trará para discussão temas como drogadição e ansiedade, bem como fará uma revisão dos compromissos firmados na Carta de Recife e abordará as dificuldades e expectativas do anestesiologista na prática clínica diária, segmentado por gerações.