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Os impactos do excesso laboral do anestesiologista na qualidade e segurança

Por dr. Luis Antonio dos Santos Diego

A segunda onda da Covid-19 vem sobrecarregando o sistema de saúde e, por conseguinte, comprometendo a saúde do profissional que estão cotidianamente expostos ao SARS-CoV2 em situações de intenso estresse. Esse excesso laboral, fator relevante para o esgotamento profissional, vem levantando preocupações sobre sua participação na qualidade e segurança do paciente.

Essa relação não é recente, Dyrbye et al. há dez anos reconhecia que o physician burnout era uma ameaça potencial ao atendimento de qualidade1. Burnout pode ser definido como uma síndrome psicológica determinada por exposição prolongada a estressores interpessoais crônicos no ambiente de trabalho. Seus principais sintomas são: exaustão avassaladora, desmotivação no trabalho com sensação de ineficácia e de falta de realizações. Muitos aspectos do atendimento ao paciente podem ser comprometidos por profissionais acometidos por burnout, principalmente a empatia e redução na satisfação do paciente com o atendimento.

Os grandes avanços na medicina, especialmente na prática da anestesiologia, ampliaram o escopo funcional do especialista, aumentando assim suas responsabilidades e obrigações profissionais. O anestesiologista está exposto a uma ampla variedade de perigos potenciais que podem ser prejudiciais à sua saúde em geral. Essa exposição inclui situações desafiadoras e inevitáveis tendo que, o profissional, resolvê-las individualmente.

A Covid-19 é um exemplo atual e manifesto do potencial risco biológico ao qual também os anestesiologistas estão expostos cotidianamente em sua prática laborativa, mas também um potencial risco próprio da natureza da atividade laboral. A exaustão emocional, em seu nível mais alto, pode levar à despersonalização

O esgotamento pode afetar a qualidade e a segurança da saúde de várias maneiras. Na verdade, a escassez de recursos humanos pode fazer com que os profissionais dispendam menos tempo com os pacientes e, potencialmente, sejam mais diretivos do que colaborativos e centrados no paciente. Além disso, a síndrome de  burnout tem sido associada a deficiências cognitivas, incluindo déficit de atenção2.

Salyers et al3. realizaram uma metanálise com o objetivo de analisar a associação entre profissionais com síndrome de burnout e a qualidade e segurança. Apesar de não encontrarem uma relação robusta que firmasse categoricamente uma associação entre a síndrome de burnout e a diminuição da qualidade e segurança do paciente (variação entre 5 e 7%).  Embora o tamanho do efeito não seja exuberante, esse estudo representa uma parcela de estudos nos quais resultados estatísticos medianamente aceitáveis contribuem sobremaneira para uma visão do mundo real.

O anestesiologista deve, portanto, saber sopesar o seu comprometimento com o seu trabalho e as obrigações pessoais, inclusive de lazer e vida interior.

Referências bibliográficas:

  1. Dyrbye LN, Shanafelt TD. Physician burnout: a potential threat to successful health care reform. JAMA. 2011 May 18;305(19):2009-10. doi: 10.1001/jama.2011.652. PMID: 21586718
  2. van der Linden D, Keijsers GPJ, Eling P, van Schaijk R. Work stress and attentional difficulties: an initial study on burnout and cognitive failures. Work and Stress. 2005;19:23–36. doi:10.1080/02678370500065275.
  3. Salyers MP, Bonfils KA, Luther L, Firmin RL, White DA, Adams EL, Rollins AL. A Relação Entre Burnout Profissional e Qualidade e Segurança em Saúde: Uma Meta-Análise. J Gen Intern Med. 2017 Abr;32(4):475-482. doi: 10.1007/s11606-016-3886-9. Epub 2016 Out 26. 27785668; PMCID: PMC5377877.