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Burnout é tema central de Fórum de Qualidade de Vida da SBA

DSCN2051Sob responsabilidade do diretor do departamento de Defesa Profissional da SBA, Armando Vieira de Almeida, o Fórum abordou o problema sob diferentes aspectos de modo a destacar as formas de prevenção e tratamento.

O anestesiologista paulista André Luiz Ottoboni realizou a apresentação de um caso real a respeito da segurança e seu impacto na vida do anestesista. Em sua opinião, a prevenção e a realização do checklist são essenciais. “Quando falamos da segurança do paciente, falamos também da segurança do profissional médico. O anestesista tem que estar vigilante a todos os processos que acontecem, inclusive no procedimento dos outros profissionais, fazendo uma adequada análise de risco e tendo um plano de gestão de crise caso ocorra alguma intercorrência. Quando algo acontece, devemos tratar o anestesista como segunda vítima, depois do paciente. Ele não pode ser culpado sozinho pelo ocorrido”, alertou.

Já o neurocirurgião Arthur Cukiert fez uma explanação sobre as alterações neurofisiológicas no Burnout. Sintomas como exaustão emocional, despersonalização do atendimento e baixa realização pessoal, comumente associados também à depressão, podem ser sinais de alerta. Cukiert destacou que os casos têm sido mais comuns em profissionais jovens ou em formação. “Os anestesistas estão no grupo de risco. Indivíduos que sofrem de Burnout têm alterações morfológicas no cérebro, mas que podem ser recuperadas depois que recebem tratamento. Em muitos casos, a psicoterapia ajudou muito na melhora do quadro clínico”, afirmou.

Suicídio médico
Ainda considerado um tabu, o aumento do número de casos de médicos que atentam contra a própria vida fez com que o tema não pudesse deixar de ser abordado no Fórum de Qualidade de Vida da SBA. Coube ao psiquiatra paulista Kalil Duailibi tratar do assunto, explanando quais os sinais e como abordar o problema.

Os dados apresentados por Duailibi merecem atenção: pesquisas recentes apontam que a cada 40 segundos ocorre um suicídio no mundo e, no Brasil, a cada uma hora, o que deixa o país na oitava posição mundial no ranking de incidência desses casos. “A cada quatro segundos ocorre uma tentativa de suicídio. Os estados do Acre e Rio Grande do Sul são os que registram os maiores números. Cerca de 88% a 92% dos suicidas apresentavam quadros depressivos; mas o que mais chama atenção é que 35% das pessoas que cometeram suicídio haviam passado pelo pronto-atendimento e não foram diagnosticadas”, destacou.

Na opinião do psiquiatra, a falta de debate sobre o assunto contribui para essa realidade. “Convivemos com esse problema há muitos anos. Um estudo conduzido pela USP em 1998 já apontava que os índices de suicídio entre médicos são três vezes maiores que na população geral; quando considerados só os estudantes de medicina, esse número sobe para quatro vezes”, disse.

Entre as principais causas para esse cenário, de acordo com Duailibi, estão o grau de exigência pessoal e profissional atribuído aos médicos; a intensa interação com o sofrimento; as jornadas de trabalho extenuantes; necessidades financeiras; declínio social; aumento das pressões e agressões no ambiente de trabalho; necessidade de afirmação e negação de problemas. “Esse conjunto de fatores também pode ser reconhecido como a síndrome do esgotamento profissional. O médico tem muita dificuldade de pedir ajuda, em geral, se automedica, mas é importante que as pessoas que estão ao redor observem com atenção”, orientou.

Estresse
Os anestesistas João Henrique Silva, do Rio Grande do Sul, e Pablo Britto Detoni, de Sergipe, abordaram em suas falas outro problema recorrente entre os médicos: o estresse. Enquanto Silva estabeleceu uma relação entre a acreditação e o estresse no anestesista, Detoni apontou formas de combate ao problema. Estar atento às jornadas excessivas de trabalho, evitar plantões prolongados, separar tempo para atividades físicas e de lazer foram algumas das sugestões apresentadas.

O estresse e o cansaço podem ter efeitos muito perigosos em qualquer atividade profissional, especialmente na do anestesiologista. A desatenção a qualquer detalhe pode provocar uma grave intercorrência em um paciente. Para evitar situações extremas, o Dr. Giovanni Menezes Santos, de Minas Gerais, apresentou o checklist das condições do anestesista. A partir da sigla em inglês “I’m safe” (estou seguro), Santos deu suas recomendações do que deve ser analisado pelo profissional antes de entrar no centro cirúrgico.

“A letra ‘i’ faz referência a Illness (doença) para que o médico avalie se está se sentido bem e em condições de trabalhar. O ‘m’, de Medication (medicação) pede que ele reflita se está fazendo uso de algum remédio e, em caso positivo, se isso afeta de alguma forma sua capacidade de atuar. O ‘s’ vem de Stress (estresse) e está associado ao questionamento: há algum evento que está afetando meu desempenho? Seguindo o mesmo raciocínio, a letra ‘a’ faz menção a Alcohol (álcool), alerta o médico para refletir se está fazendo uso excessivo de alguma substância que impacta no seu trabalho. Fatigue (fadiga): descansei o suficiente? Eating (alimentação): estou apto? Eu me alimentei o suficiente? Especialmente no caso de cirurgias longas, são esses os principais fatores a serem observados”, explicou.

Jurisprudência
A assessora jurídica da SBA, Cláudia Barroso de Pinho Tavares Montanha, encerrou o Fórum com uma palestra sobre responsabilidade ética, civil e penal sob a ótica da jurisprudência atual. Para selecionar os casos que foram apresentados, ela se baseou nas principais dúvidas enviadas pelo novo espaço de Consulta Jurídica Online do site da Sociedade, em funcionamento há pouco mais de um mês.

Em breves palavras, Cláudia destacou que a relação médico-paciente é contratual, mesmo que não tenha sido firmado um contrato por escrito. “Existe o ajuste de vontades das partes, estabelecido por meio de um ‘contrato verbal’, em cuja relação incide o Código de Defesa do Consumidor; inclusive, o prazo prescricional de cinco anos para que o paciente possa ingressar com medida judicial, no caso da ocorrência de um ano, sendo que a obrigação do médico é de meio, e não de resultado, devido ao risco inerente a todo ato médico”, explicou.

“O médico anestesiologista tem o dever adotar as melhores práticas da anestesiologia, seguir todos os procedimentos de segurança, tomar todas as precauções possíveis, devendo documentar e prestar todas as informações necessárias. Porém, ainda que tenha tomado todas as cautelas que o caso requer, podem ocorrer danos ao paciente”, ponderou. Entre os casos apresentados pela advogada estavam “Anestesia simultânea” e “Documentos do ato anestésico”.

 

Fotos: Christine Mendonça