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Boletim Minuto – Realidade Aumentada: presente ou futuro na anestesiologia?

Luis Antonio Diego
Diretor do Departamento de Defesa Profissional da SBA

O início da prática clínica da anestesia em meados do século XIX é considerada uma das maiores “Inovações” da humanidade e, desde então, incrementos vem se sucedendo e até melhorias disruptivas. Inicialmente o foco da pesquisa era por novos fármacos e técnicas que pudessem diminuir as complicações e promover maior eficiência e conforto durante as cirurgias. Atualmente, com o desenvolvimento tecnológico, especialmente na tecnologia da informação,  a “Realidade Aumentada (RA)”, que já é muito utilizada em diversos campos do conhecimento, vem sendo utilizada também na anestesiologia(1).

Importante diferenciar a realidade virtual (VR) da RA, a primeira utiliza a tecnologia para criar um ambiente totalmente informatizado e de 360 graus, completamente simulada por computador, permitindo a manipulação do ambiente ao seu redor; o usuário é “transportado” para um outro ambiente. Já a RA permite a integração do mundo real e o digital com o objetivo de melhorar a experiência do usuário. Na RA, o conteúdo pode ser exibido em várias formas, como animações gráficas, vídeos e até sons, e essas informações são sobrepostas ao ambiente da vida real da própria pessoa fornecendo um equilíbrio entre a interatividade aprimorada digitalmente, havendo, portanto, uma conjunção do ambiente real e do virtual com o registro 3D de objetos virtuais e reais interativamente também em tempo real. O objetivo é que o usuário interaja com os elementos virtuais de um modo mais natural e sem a necessidade de treinamento e adaptação.

À medida que dispositivos tecnológicos, como os smarthphones e os óculos digitais mais ergonômicos(2) e outros equipamentos estiverem disponíveis no mercado a preços mais acessíveis, a RA  estará mais presente no cotidiano das pessoas e também no setor saúde atraindo cada vez mais novas possibilidades de aplicação na prática assistencial. O desenvolvimento de softwares próprios para situações e tarefas específicas também trará possibilidades infinitas em todas as áreas de atuação humana, inclusive na anestesiologia. Uma das primeiras aplicações da tecnologia de RA na medicina perioperatória foi na identificação de estruturas anatômicas para bloqueios regionais(3) e acesso vascular periférico(4) ou central(5).

A calibração prévia de sondas de ultrassom com dados obtidos por outras imagens, como tomografia e ressonância, pode conceber um ambiente de RA permitindo a determinação de estruturas na imagem do ultrassom(6). Essa técnica vem sendo utilizada em procedimentos cirúrgicos, pois a realidade aumentada possui a propriedade de modificar etapas no procedimento, além de aumentar a precisão cirúrgica(7) sem a utilização de radiações ionizantes(8). A utilização da imagem pré-operatória, combinados com outros dados visuais, incluindo a localização de incisões ou pontos de perfuração, fornecem ao cirurgião uma sobreposição da anatomia individual do paciente.

As possibilidades de aplicação da RA são muitas e podem ser utilizadas em diversas situações.  Com a finalidade de diminuir a ansiedade em pacientes pediátricos, Libaw et al(9) utilizaram a realidade aumentada durante a indução de anestesia geral como método de distração dos pacientes. Outras áreas da anestesiologia podem se beneficiar de sua aplicação, como a medicina da dor e a medicina intensiva.

A segurança do paciente é muito cara ao anestesiologista e por isso a especialidade é reconhecida como uma das mais atuantes nesse campo do conhecimento e por isso possui a obrigação de estar atento a todos os avanços tecnológicos que possam garantir essa marca da especialidade. As inúmeras barreiras aos eventos adversos que são utilizadas na prática clínica cotidiana do anestesiologista poderá, muito em breve, utilizar de forma regular as propriedades da realidade aumentada.

Referências

1.            Privorotskiy A, Garcia VA, Babbitt LE, Choi JE, Cata JP. Augmented reality in anesthesia, pain medicine and critical care: a narrative review [Internet]. Vol. 36, J Clin Monit Comput. 2022. p. 33–9. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/33864581

2.            Drake-Brockman TFE, Datta A, von Ungern-Sternberg BS. Patient monitoring with Google Glass: a pilot study of a novel monitoring technology [Internet]. Vol. 26, Pediatric Anesthesia. 2016. p. 539–46. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1111/pan.12879

3.            Jeon Y, Choi S, Kim H. Evaluation of a simplified augmented reality device for ultrasound-guided vascular access in a vascular phantom. J Clin Anesth. setembro de 2014;26(6):485–9.

4.            Ai D, Yang J, Fan J, Zhao Y, Song X, Shen J, et al. Augmented reality based real-time subcutaneous vein imaging system. Biomed Opt Express, BOE [Internet]. 1o de julho de 2016 [citado 25 de junho de 2022];7(7):2565–85. Disponível em: https://opg.optica.org/boe/abstract.cfm?uri=boe-7-7-2565

5.            Brass P, Hellmich M, Kolodziej L, Schick G, Smith AF. Ultrasound guidance versus anatomical landmarks for internal jugular vein catheterization. Cochrane Database Syst Rev. 9 de janeiro de 2015;1:CD006962.

6.            Scholten HJ, Pourtaherian A, Mihajlovic N, Korsten HHM, A Bouwman R. Improving needle tip identification during ultrasound-guided procedures in anaesthetic practice [Internet]. Vol. 72, Anaesthesia. 2017. p. 889–904. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/28542716

7.            Verhey JT, Haglin JM, Verhey EM, Hartigan DE. Virtual, augmented, and mixed reality applications in orthopedic surgery. Int J Med Robot. abril de 2020;16(2):e2067.

8.            Elmi-Terander A, Skulason H, Söderman M, Racadio J, Homan R, Babic D, et al. Surgical Navigation Technology Based on Augmented Reality and Integrated 3D Intraoperative Imaging: A Spine Cadaveric Feasibility and Accuracy Study. Spine (Phila Pa 1976). 1o de novembro de 2016;41(21):E1303–11.

9.            Libaw JS, Sinskey JL. Use of Augmented Reality During Inhaled Induction of General Anesthesia in 3 Pediatric Patients: A Case Report. A&A Practice [Internet]. maio de 2020 [citado 25 de junho de 2022];14(7):e01219. Disponível em: https://journals.lww.com/aacr/Abstract/2020/05000/Use_of_Augmented_Reality_During_Inhaled_Induction.10.aspx

10.          Alismail A, Thomas J, Daher NS, Cohen A, Almutairi W, Terry MH, et al. <p>Augmented reality glasses improve adherence to evidence-based intubation practice</p>. AMEP [Internet]. 6 de maio de 2019 [citado 25 de junho de 2022];10:279–86. Disponível em: https://www.dovepress.com/augmented-reality-glasses-improve-adherence-to-evidence-based-intubati-peer-reviewed-fulltext-article-AMEP