Notícias Artigo: Violência contra médicos, escutem a nossa voz sbahq setembro 11, 2020 Compartilhe Autora: dra. Michelle Nacur Lorentz No dia 28 de agosto deste ano, uma médica, plantonista da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do interior de Minas Gerais, foi vítima de violência física perpetrada por uma paciente e seu acompanhante que queriam ser atendidos antes dos outros pacientes. Os agressores, presos em flagrante, foram liberados no mesmo dia. Fiscalização na referida UPA evidenciou situações semelhantes vividas por outros médicos, os quais relataram a frequência das ofensas aos médicos da unidade através das redes sociais, fomentando a agressividade da população. Casos de agressão verbal e física, até tentativas de assassinato contra médicos noticiados em diferentes estados, chegam ao conhecimento da população através das manchetes dos jornais. No entanto, esse fenômeno parece ser ainda maior, devido à subnotificação, o que configura uma verdadeira tragédia: os médicos tornaram-se vítimas silenciosas não apenas de algozes contumazes (pessoas com passagens na polícia), como também de pacientes e familiares insatisfeitos com a precária infraestrutura do sistema de saúde do país. Os relatos de violência são mais comuns na rede pública, onde os pacientes sofrem por conta da precariedade estrutural. A falta de profissionais, de equipamentos, de medicamentos e as longas filas de espera fazem com que os pacientes canalizem sua insatisfação para os profissionais de saúde, desferindo todo tipo de agressão, desde ameaça, violência moral, física e patrimonial. As consequências são devastadoras com perda da motivação profissional, diminuição da produtividade, longas ausências ao trabalho, esgotamento, depressão, stress pós-traumático e em até mesmo ideação suicida. A revisão de um estudo publicada em 2016 pela New England Journal of Medicine, sobre violência contra profissionais de saúde nos EUA, relata que 89% das agressões contra médicos foram praticadas por pacientes, 9% por familiares dos pacientes e 2% por amigos dos pacientes. 78% dos médicos dos departamentos de emergência relataram ser alvos de violência no local de trabalho, sendo 75% ameaças verbais, 21% agressões físicas, 5% confrontos fora do local de trabalho e 2% perseguição. Em São Paulo, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren – SP) e o Conselho Regional de Medicina (Cremesp) evidenciam que sete em cada 10 profissionais da saúde já sofreram alguma agressão cometida por paciente ou seus familiares. Apontaram, ainda, que 59,7% dos médicos e 54,7% dos profissionais de enfermagem são afetados por esse problema. A Associação Paulista de Medicina, corrobora esses dados ao apontar que 70% das agressões feitas aos médicos é verbal, 15% correspondem a ataques físicos e 12% ameaças. Consciente de tal situação o Conselho Federal de Medicina (CFM) encaminhou pedido formal às autoridades brasileiras pedindo providências urgentes no sentido de prevenir e combater as diferentes situações de violência que envolvem os médicos e outros membros das equipes de saúde. A autarquia pediu ainda o apoio e a adoção de medidas para combater os problemas de infraestrutura e de recursos humanos nas unidades de atendimento da rede pública. Os Médicos clamam por respeito e segurança. Escutem nossa voz! No momento em que escrevo este artigo, tramitam na Câmara dos Deputados projetos que tratam da segurança dos médicos e profissionais de saúde visando tipificar de forma mais gravosa os crimes de lesão corporal, contra a honra, ameaça e desacato, quando cometidos contra médicos e demais profissionais da saúde no exercício da sua profissão. Vivemos em um país onde as injustiças prosperam e onde o médico é visto como abastado e responsável pelas mazelas do sistema de saúde. Na verdade, a grande maioria trabalha em condições precárias e são tão vítimas quanto os próprios pacientes. Da mesma forma que o professor é agredido em sala de aula, as agressões contra médicos nos levam a pensar quais valores estão sendo incutidos em uma nação onde as profissões que são verdadeiros pilares da sociedade têm seus profissionais agredidos de forma sistemática. Navegação de Post AnteriorSiso 2020: inscreva-se agora mesmoPróximoArtigo: Anestesia e sua capacidade de adaptação durante a pandemia