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Mês de abril e a Segurança do Paciente

Por dra. Michelle Nacur Lorentz

Dia 1º de abril é celebrado como o Dia Nacional da Segurança do Paciente e dia 7 de abril o Dia Internacional da Saúde.

O conceito de segurança nos cuidados com a saúde sofreu grande impacto em novembro de 1999 com os dados coletados no trabalho “O Erro é Humano”. Tal publicação trouxe à tona uma realidade catastrófica: 4% dos pacientes hospitalizados sofrem algum tipo de evento adverso, sendo o fator humano responsável pela maioria desses eventos! Isso gera em torno de 44mil a 98 mil mortes ao ano nos EUA, matando mais que acidentes de trânsito, câncer de mama ou Aids.

A partir de então, esforços foram enviados, de entidades governamentais e não governamentais, para aumentar a segurança nos sistemas de saúde e passou-se a desenvolver sistemas complexos para mitigar os erros e reduzir a mortalidade.

O Instituto Mundial de Saúde preconizou que os serviços de saúde devem ser seguros, pontuais, efetivos, eficientes, ter equidade e manter o foco no paciente, criando o acrônimo STEEEP.

A World  Alliance for Patient Safety lançou o lema “Primeiro não fazer o mal” e a segurança passou a ser preocupação constante nos cuidados com a saúde.

O elemento segurança tornou-se particularmente importante na anestesia, atividade intrinsecamente perigosa sem ser intrinsecamente terapêutica. Tanto é que a APFS tomou como lema que “nenhum paciente deve sofrer dano devido a anestesia”.

A OMS lançou, entre 2007 e 2008, seu segundo desafio global: “Cirurgias Seguras Salvam Vidas”. Neste sentido, recomendaram a utilização de checklist antes de cada procedimento anestésico-cirúrgico. Em 2009, um trabalho publicado no NEJM demonstrou que, após implementação do checklist antes das cirurgias, as complicações reduziram de 11% para 7% e a mortalidade de 1,5% para 0,7%. Apesar de tal recomendação, muitos serviços ainda não implementaram o checklist rotineiramente e trabalhos posteriores demonstraram que em 10 a 15% dos casos há esquecimento de checar pelo menos 1 item do checklist e que a falha ao checar é responsável por 22 a 33% dos incidentes críticos em anestesia.

Em 2017,  H. Higsham e B Baxendall publicaram artigo no BJA demonstrando que os cuidados com a saúde são atividades de alto risco, com maior mortalidade que escalar montanhas ou pular de Bungee Jumping.

Portanto, esforços contínuos devem ser envidados visando aumentar a segurança do paciente, a redução ou mitigação de atos não seguros nos sistemas de assistência à saúde, além da utilização de melhores práticas para conduzirem aos melhores resultados. 

No âmbito individual recomenda-se atualização científica, compromisso, atenção, treinamento em simulação e boa comunicação com o cirurgião. Na esfera da equipe, recomenda-se trabalhar as competências técnicas e habilidades não técnicas, autonomia, baixa dependência do gestor e mecanismos de autocorreção. Na coordenação, recomenda-se defender os interesses da equipe, comunicação adequada, resolução dos conflitos de forma clara e transparente, valorização do indivíduo e fornecimento do feedback, de forma a tornar o coordenador um líder e não apenas um chefe. Da mesma forma as reuniões periódicas, treinamento contínuo e debriefing tornariam a equipe mais eficiente aproximando-a das equipes de alta performance. Com tudo isto, conseguiríamos transformar a cultura da culpa em uma cultura de segurança. 

Referências:

  1. N Engl J Med 2009; 360: 470-479.
  2. Anesth Analg 2015, vol 121, 4: 1097-1102.
  3. Brit J Anaesth 2017; 119 (S1): il06-il14.